terça-feira, 6 de outubro de 2015

Festa de 15 anos!



Chegou, finalmente chegou o dia da festa! Meu despertador avisa que já é sábado e são exatamente nove da manhã, levanto-me rapidamente e vou ao banho. Essa semana parecia nunca passar, parecia nunca chegar sábado. Eu sempre muito ansiosa havia até brincado com algumas amigas que parecia ser meu casamento, nunca aguardei tanto por uma noite como esta. Nem eu mesma sabia dizer o porque de tanta ansiedade, talvez eu soubesse mas queria fingir para mim mesma que não seria esse o motivo. A água quente descia por meu pescoço me aliviando de tamanha tensão e a minha voz baixinha no pensamento soava como buzinas furiosas em meio ao trânsito, ou, era como se estive um vão sendo preenchido pelo barulho do trem à vapor, e eu conseguia sentir o movimento das rodas em meu coração "hoje tem que ser perfeito, hoje tem que ser perfeito, hoje tem que ser perfeito", essa voz se repetia repentinamente enquanto um largo sorriso ocupava meu rosto. Já estava tempo demais embaixo do chuveiro, meus dedos já se enrugavam pelo toque da água quente e ao notar isso saí do banho. Saio enrolada do banheiro com um sorriso de quem parecia ter acabado de ganhar muitos presentes. O sorriso, essa foi a primeira coisa que ela arrancou de mim. De volta ao quarto abro o guarda roupa e procuro por peças leves e quentes, pois o sábado tinha amanhecido nublado e com uma pequena ventania. Opto por um short jeans claro e uma blusa de lã, manga longa e em tom de azul marinho, uma sapatilha azul e estou pronta para ir ao salão de beleza. Pego um livro na estante, o celular e desço as escadas correndo, assim sendo repreendida por minha mãe dizendo para eu tomar mais cuidado se não acabaria me espatifando sobre o chão. Solto gargalhadas e digo que sei me cuidar, vou até o banheiro e escovo os dentes, pego um batom em tom de rosa queimado (meio bizarro, mas é esse o nome do batom) que estava dentro do gabinete do banheiro e passo suavemente em meus lábios. Agora sim estou pronta, falo indo em direção a porta. A cada passo ela estava lá em meus pensamentos, a cada passo a ansiedade aumentava. Em quinze minutos estou no salão, a moça já me aguardava para fazer minhas sobrancelhas e uma limpeza de pele facial. Deito-me no local de sempre e aguardo para que ela comece seu trabalho. Fecho os olhos e praticamente adormeço pensando na noite que está por vir. Quase uma hora depois me levanto, vou até o espelho e me olho admirando o trabalho tão bem feito da moça, e novamente estou retornando até minha casa. Entro em casa e vou até a cozinha pegar uma fruta para comer, volto para sala e deixo meu corpo cair sobre o sofá lentamente, fico ali comendo a fruta e esperando o horário para ir até o próximo salão, pintar as unhas e o cabelo. Minha mãe desce as escadas apressada e diz estar saindo para comprar o presente da aniversariante, eu pergunto se ela irá demorar e a mesma me responde que sim. Ela sai, e eu me pego pensando nessa noite e resmungo sozinha que a hora não passa. Pego o celular e desbloqueio, já são onze e quarenta e cinco da manhã, pego a bolsa e me levanto caminhando até o próximo salão. Chegando lá uma moça que nunca tinha visto antes veio me atender, gentil, alta e magra, cabelos longos e preto, dona de um carisma contagiante, enquanto prepara a tinta ela me pergunta se eu vou à um casamento, lhe respondo que não e que se trata de uma festa de quinze anos. Ainda conversando ela divide meus cabelos para começar a tingir e eu retiro da bolsa o livro para ler. Já são treze horas e ainda estou aqui, agora indo para o lavatório retirar a tinta. Em meus pensamentos ela, em meus pensamentos a noite que eu jurava à mim mesma ser a nossa. As unhas da moça sobre meus cabelos me tirou um pouco do foco, eu ainda estava paralisada em meus pensamentos quando ela me disse que já podíamos ir para outra sala escovar os cabelos. Pelos corredores as cores alegres do salão, as imagens nas paredes, as decorações, pessoas aparentemente felizes, ali parecia ser o começo de quase tudo, era dali que muitas pessoas saíam em destino à festas, casamentos e casas noturnas em São Paulo, muitas delas talvez à procura de satisfação em outras pessoas, outros corpos, outras bocas. Muitas delas à procura de carinho, tentando encontrar no outro o prazer do amor, tentando complementar a infelicidade do vazio. E bom, eu ali, não parecia ser muito diferente. Me recuso a ler, meus pensamentos não deixava mais que eu fizesse isso. Eu não queria estar aqui, eu não queria ter que fazer tudo isso, eu simplesmente queria pular para parte em que eu encontraria ela. A hora passa, começo a ficar aflita de tanta ansiedade e ao mesmo tempo aflita por estar feliz demais com essa noite. Nem mesmo o barulho do secador, as pessoas conversando conseguia me tirar daqueles pensamentos, a moça que cujo eu nem tinha perguntado o nome me avisou que eu estava pronta e já poderia escolher o penteado, naquele momento me senti um pouco libriana não conseguia me decidir o que fazer, mas logo disse a moça que não queria algo muito preso e nem muito solto, algo com poucos cachos e a franja solta e de um modo que dê para eu colocar a coroa. Um pouco mais de meia hora depois estava tudo pronto, me sentia linda, amei os cachos e o sorriso em meu rosto teve o prazer de demonstrar isso, em seguida agradeci e paguei, a moça me desejou uma boa festa e eu lhe agradeci. Peguei a bolsa e caminhei em rumo a minha casa, chegando em casa com muito cuidado fui ao banho, sem deixar que a água tocasse em meus cabelos tomei banho o mais rápido possível. Assim que sai do banheiro minha irmã mais nova já me aguardava com o vestido que eu usaria essa noite, termino de me enxugar e pego o vestido das mãos dela. Abro o guarda roupa e retiro de lá um creme hidratante corporal, espalho por todo o corpo e depois coloco o vestido. Com o par de sapatos na mão desço indo para a sala, o telefone toca e eu atendo, alguém do outro lado da linha falava muito rápido e eu só consegui escutar poucas palavras "daqui a pouco estou ai", perguntei quem era pois não estava reconhecendo a voz e ela me responde. Desligo o telefone e fico feliz em saber que minha cunhada e meu irmão mais velho estão à caminho. Vou escovar os dentes e preparar a pele enquanto espero por eles, meu irmão mais novo entra e me diz que também já está pronto. Em seguida minha cunhada e meu irmão chegaram e disseram ter amado o vestido, ela disse também ter adorado meu penteado. Digo a eles que já são dezessete e meia e que não podemos nos atrasar de maneira alguma, ela então diz se já estou com a pele preparada para a maquiagem, lhe respondo que sim e ela abre a bolsa para pegar o que for necessário para me deixar deslumbrante naquela noite. Quando ela começa a me maquiar noto que meu irmão ainda não estava arrumado e ele me diz que irá voltar para a casa dele para se arrumar, digo para ir rápido pois não temos tempo a perder e assim ele vai. Me sento e deixo que ela termine a maquiagem, em seguida minha mãe entra pela porta e eu digo para que ela se arrume rápido. Vinte minutos depois estou pronta, calço os sapatos, esguicho perfume sobre meu pescoço, passo batom. E sim, finalmente, quando as horas pareciam não passar, quando o dia parecia nunca se tornar noite, chegou e em poucos minutos eu encontraria ela. Meus irmãos mais novos desceram e já estavam prontos, minha mãe desceu com o presente nas mãos e minha cunhada só faltava calçar os sapatos. Vou até a cozinha tomar água e ao olhar para o relógio entro em desespero, já são dezoito e meia, eu tinha exatamente meia hora para está no salão da festa. Escuto o barulho do carro, meu irmão já estava de volta. Ele também diz que estamos atrasados, aviso todos para entrarem logo no carro e deixarem que eu feche o portão, tranquei e entrei no carro. Pego o celular, desbloqueio e já são dezoito e cinquenta, meu Deus não vai dar tempo, tenho que está lá as dezenove horas em ponto, todos estariam me esperando pro último ensaio antes da festa, falo desesperadamente deixando todos nervosos. Meu irmão diz para eu ter calma, liga o carro e acelera o mais rápido possível. Estamos na avenida já á caminho e o semáforo fecha, parecia está fechado a mais de cinco minutos, ele realmente não queria ficar verde, ele insistia em fazer com que eu me atrasasse. Quando o semáforo abriu meu irmão acelerou e eu alternando entre olhar no GPS e olhar no relógio, vi que ja estávamos perto, deu um certo alívio até eu pegar o celular novamente e ver que já eram dezenove e cinco, fiquei angustiada, nervosa e com medo de todos estarem me esperando para o ensaio. Subimos uma avenida enorme, parecia que não iria chegar na altura 1421. Avistei um enorme salão, conferir o número e era lá. Entramos e como regra, só os debutantes poderiam entrar as dezenove horas e os demais só entrariam mais tarde. Assim foi feito, eu entrei quase correndo no salão da festa e percebi que só havia meninos por lá, cheguei em um deles que me era mais íntimo e perguntei aonde estavam os outros, ele me disse que eu era a primeira menina chegar lá. Eu quase sem acreditar retornei ao carro e tive que dizer aos meus familiares que tamanha correria não se resultou em nada, já eram dezenove e quinze e nenhuma outra menina havia chegado. Decidir voltar e esperar por todos no salão, de cinco em cinco minutos chegavam mais debutantes, eu olhava ansiosamente esperando meu olhar cruzar com o dela, soou como um fracasso, ela parecia nunca chegar. Me levanto e decido ir lá fora tomar um ar fresco e me acalmar, ao fazer a curva na escada me deparei com ela, ela estava linda, subindo como uma verdadeira princesa, o olhar dela tímido e o sorriso delicado me fez sorrir, ela parecia sempre acuada, com vergonha. Perdi a noção por alguns segundos, tudo saiu de foco e só ficou ela, só o olhar dela. Ruiva, cabelos um pouco mais abaixo dos ombros, olhos pequenos, pele clara e 1,56 de altura. Lá estava ela, subindo as escadas de salto, com uma pequena coroa em seus cabelos e um sorriso envergonhado. Consegui apenas dizer "olá" e naquele momento aquilo parecia ser o bastante. Com um pouco mais de vinte minutos todos já estavam prontos para começar o ensaio, ela estava à um casal em minha frente. Vê-la desfilando em meio o salão me fez perder o sentido mais uma vez, como ela pode ter esse efeito sobre mim? Nem eu mesma sei. Assim que acabamos o ensaio convidados e familiares estavam chegando, a aniversariante estava linda, todos estavam. Mas, nenhuma outra me tirava a imagem dela parada nos degraus da escada. Algumas conhecidas vieram conversar comigo, as outras meninas também demonstravam ansiedade. Em menos de uma hora aquele salão estaria cheio de pessoas que eu com certeza jamais teria visto antes em toda a minha vida e eu estaria entrando e fazendo toda a cerimônia como conforme. Quando todos haviam chegado me avisaram para ir até o local onde iríamos sair de lá até o salão, eu chamei o rapaz que seria meu par e nós dois seguimos até lá. No caminho encontrei ela, eu não disse se quer uma palavra e apenas à observava, a cada passo e a cada olhar. Era constrangedor quando nossos olhares se cruzavam, quando eu me via olhando para ela e a pegava fazendo o mesmo. Me senti envergonhada, talvez eu estivesse entrando no jogo dela e estivesse realmente constrangida. Começaram anunciar os nomes, quando chegou a minha vez parecia que todos estavam me olhando, e sim, eles estavam e essa sensação não era nada agradável. Dançamos a valsa, e ela e seu par estavam ao meu lado, tentei fingir que não era ela e que não tinha notado a sua presença, porém ela era a única presença que me importava. Depois da valsa me perdi dela e então fui até a mesa onde eu iria ficar, me sentei e peguei o celular para responder mensagens aleatórias e essa era a única coisa que me distraia em meio aquele pessoal todo. Não demorou muito e ela estava lá na companhia de seu amigo, se sentou e eu não pude deixar de olhar. "Como pode ser tão linda e tão misteriosa?" Pensei enquanto disfarçava bloqueando e desbloqueando a tela do celular. Chegaram na mesa mais duas garotas, eles conversavam entre eles e eu só observava a conversa e ela. A noite foi passando, a pista iria ser aberta e muitos já estavam sobre efeito de álcool nas veias. Me levanto e decido ir dançar, ela já estava lá em pé com um copo de saquê na mão, bebia e observava a pista querendo dançar, agora já não parecia tão acuada. Fui ao barman e pedi uma dose de tequila, virei e em seguida saí de lá com um copo de saquê nas mãos. Estava indo em direção a pista quando encontrei minha cunhada e parei para conversar com ela, eu conversava e observava ao meu redor para ver se avistaria ela. Pouco depois avistei, ela estava na pista dançando com seu amigo. Falei pra minha cunhada que precisa ir e fui até onde ela estava, cheguei e não falei com ela a vergonha ocupava meu corpo, arrisquei chamar um outro amigo para dançar, ele aceitou e nos dois dançamos como se ninguém estivesse por lá, logo ela chamou o amigo e começou a dançar também. A cada passo que eu dava eu à olhava, a cada volta eu à olhava. Em meio as minhas mexidas de cintura ela estava lá, eu à olhava imaginando loucuras comigo,  olhava desejando, eu à olhava querendo tê-la. Uma garota chegou e tirou ela do seu parceiro, tentei ler seus lábios e a garota estava convidando-à para dançar. Meus olhos focava nela, minha respiração ficou acelerada, eu não consigo descrever tudo que senti, talvez fosse um simples ciúme. Ela dançava com essa garota me olhando, eu retribui os olhares e os meus estavam regados de desejo, não posso negar que vi desejo em seus olhares também. Fui surpreendida em vê-la deixando a garota e vindo em minha direção, não sei o que ela estava pensando fazer, mas eu estava gostando da idéia. Ela me puxou e disse ao meu par que queria dançar comigo, bom, não foram exatamente essas palavras mas com o coração quase saindo pela boca foi o que consegui escutar. Peguei em sua cintura e à conduzi para dançar, seu cheiro estava me deixando louca, o toque dela sobre meu corpo é tudo o que eu mais queria naquela noite. Começamos conversar, a voz dela era como passarinhos cantarolando em meus ouvidos, era música que eu estava disposta a ouvir noite e dia. Nem me importei com a dança, estávamos errando passos e sorrindo uma para outra, pra ser sincera nem consigo me lembrar da música que tocava naquele momento, eu estava perdida em meu mundo e em meu mundo só existia duas pessoas, ela e eu. Ela sussurrou algo que eu custei a entender, em seguida ela me puxou e eu ainda não estava entendendo apenas segui-à. Paramos em frente a escada, na mesma escada em que meu olhar teria cruzado com o dela pela primeira vez naquela noite. Ela me disse que lá dentro estava calor, eu concordei e ela continuou, disse que lá fora estava com uma ventania deliciosa e eu não pude deixar de concordar. Descemos e eu avistei um corredor, fomos em direção a ele e chegando lá havia uma mesa de sinuca, cadeiras e mesas espalhadas. Puxei uma das cadeiras e me sentei, ela ficou parada a uns cinco passos de mim, me olhava sem parar e eu à olhava com admiração. O silêncio pesava naquele momento e ela pra descontrair puxou assunto, começamos a conversar e logo escutamos vozes e risadas olhamos para o mesmo corredor que tínhamos passado e estava o amigo dela e algumas outras pessoas, ao nos notarem por lá pediram desculpas e voltaram. Enquanto conversávamos eu olhava atentamente a cada curva de seu corpo, seus olhos brilhavam e eu me perdia em sua doce voz. Eu a elogiei, e ela veio em minha direção peguei em sua mão e a levei para a área externa da pequena sala. Seu amigo voltou e estava acompanhado, nós quatros começamos a conversar, ela chegou perto e sussurrou que queria me beijar eu a envolvi pela cintura e a coloquei em cima da mesa, já que a mesma era um pouco menor que eu. Olhos fechados, sua mão sobre meu pescoço e a minha sobre seus cabelos nos entregamos naquela noite, as vozes e a música vindo do salão da  festa soava como fundo sonoro. Sua boca macia e pequena agora estava entrelaçada na minha. Esquecemos a festa, os amigos e ali ficamos juntas vendo a passagem das nuvens e a grande lua que nos iluminava. Já era quase quatro da manhã quando decidirmos voltar para a festa, eu fui com um imenso desejo de ficar, queria permanecer ali em seus braços, porém infelizmente tínhamos que voltar, eles já deveriam estar sentindo a nossa falta. Quando chegamos minha mãe me esperava, disse que já era tarde e precisávamos ir, pedi para ficar um pouco mais e ela deixou. Corri para a mesa em que ela estava e disse que já já teria que ir embora, ela perguntou se eu não podia ficar e eu disse que só mais um pouco. Ela estava exausta, e eu estava apenas querendo-à e fiquei ali olhando para ela. Minha mãe já acenava me chamando, levantei e me despedi dela, de nossos amigos que estavam na mesa e fui embora, meus olhos caíram de tristeza e junto com ele o sono já me dominava. Entrei no carro e adormeci ali mesmo, pensando nela, pensando na noite que se tornou incrível por causa dela e o quanto eu à desejava, desejava para que fosse minha. Adormeci e acordei já em casa, desci meio sonolenta e caí na cama. Eu só queria dormir com ela em meus braços e acordar com sua boca pequena e macia sobre a minha, como naquela noite em que aconteceu, naquela noite que desde que eu havia acordado eu teria jurado ser a nossa.

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